segunda-feira, 9 de abril de 2012

Protagonista de ‘Lixo Extraordinário’ dá palestra em Harvard


Tião Santos, que ficou conhecido nacional e internacionalmente por protagonizar o documentário ‘Lixo Extraordinário’ do artista plástico Vik Muniz, foi aos Estados Unidos apresentar uma palestra para a renomada universidade de Harvard, sobre a importância da reciclagem e realidade dos catadores no Brasil.
Tião é também Coordenador de Logística do movimento Limpa Brasil Let’s do it!, atuando na área da retirada dos resíduos coletados em contato com as cooperativas de catadores de materiais recicláveis em cada cidade.
Um ano após inaugurar seu black-tie no tapete vermelho do Oscar, em Los Angeles, quando representou, ao lado do artista brasileiro Vik Muniz, o documentário Lixo Extraordinário, Tião Santos deixa mais uma vez o Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, rumo aos Estados Unidos. Desta vez com uma missão não menos nobre: dar uma palestra na renomada Universidade de Harvard – onde estudou, apenas para dar um único exemplo, o atual presidente norte-americano, Barack Obama.
“Cara, eu não vivo muito de ansiedade, não. Sou muito controlado nessas questões, mas se eu disser que faltando cinco minutos não vai me dar um frio na barriga, é porque alguma coisa estará errada, né? Mas eu fico imaginando, me preparei bem”, afirmou o presidente da Associação de Catadores do Aterro Metropolitano do Aterro do Jardim Gramacho (ACAMJG), figura central do documentário que concorreu ao Oscar do ano passado e que embarca nesta noite para o Estados Unidos. A palestra ocorre na próxima quinta-feira.
Na universidade norte-americana, Tião é o convidado principal do David Rockfeller Center for Latin American Studies, ou o centro de estudos da América Latina de Havard, para acompanhar a exibição do filme e, depois, como ele próprio define, “aproveitar uma oportunidade ímpar para falar para uma grande quantidade de pessoas que são formadoras de opinião, para mostrar que existe um mundo aqui fora, muito diferente da realidade deles lá”.
“A sustentabilidade hoje é um dos pilares. É o momento de construir isso de um ângulo mais prático. Claro que agir localmente é importante, mas precisamos ter ações globais mais amplas”, completa Tião, que não pretende seguir nenhum tipo de linha acadêmica em sua apresentação. “Prefiro sempre fazer um bate-papo. Claro que eu tenho números na mão, um planejamento, mas eu sempre gosto de perceber quem está ali, porque cada local é diferente de outro”, diz ele, que também já discursou em Yale, também nos EUA.
Nada mal para quem há dois anos brigava ferozmente para ver reconhecida sua associação de catadores de material reciclável, como ele gosta de dizer sempre, e não de lixo. “Às vezes eu paro para pensar e fico meio que tonto. Caraca, como a minha a vida deu um salto! Eu procuro valorizar muito o que aconteceu na minha vida e as pessoas que me ajudaram, como o Vik. As pessoas que acreditaram em mim como liderança e na sinceridade no que estava fazendo. E numa universidade super respeitada no mundo inteiro um cara vai lá, sem faculdade, palestrar, só consigo ser muito grato a todos. A sorte só vem a quem trabalha”, afirma.
Além de mostrar o sucesso de sua iniciativa, Tião quer usar também o exemplo de repercussão junto às autoridades na implementação de políticas públicas mais voltadas à sustentabilidade e apoio aos catadores de produtos recicláveis.
“O governo sentiu um pouco a pressão, as pessoas começaram a se perguntar mais. Gramacho vai ser um grande piloto para se pensar em políticas públicas para o fechamento de outros lixões. Não é tudo o que a gente quer, mas estamos avançando”, explica sobre o fechamento do maior aterro sanitário da América Latina, previsto para abril deste ano, cujos catadores estão sendo cadastrados para capacitação com vistas a novas oportunidades de trabalho.
“A reciclagem ainda está muito ligada à pobreza e à exclusão social. Ela pode e deve ser de forma mais humana. Hoje os catadores estão todos na rua, em lixões, colocando a saúde em risco, tudo porque o Brasil não tem um sistema de coleta seletiva. O Brasil perde US$ 8 bilhões por não reciclar. Temos 1,2 milhão de catadores sem tecnologia de inclusão. Há muito ainda o que ser feito, pretendo mostrar tudo isso lá”, completa.
ANDRÉ NADDEO
Fonte: TERRA

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